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São Paulo, 24 de abril de 2024   
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Entrevistas

 

 Gustavo Borges
 Atleta
  
"A família tem que ficar de olho no uso de anabolizantes. Principalmente em academias."



A maioria dos pais e dos profissionais considera a prática esportiva uma necessidade. Mas há uma preocupação quanto à precocidade, freqüência e intensidade de treinamentos mais regulares. Você começou a nadar ainda na infância?

Gustavo: Eu aprendi aos 5, mas comecei a nadar mesmo aos 9 anos. Foi uma introdução ao esporte até que tranqüila. Aos 9, eu comecei a me interessar não só pela natação, mas pelo esporte de forma geral. Cheguei a fazer vôlei, basquete, vários esportes.

É importante apresentar à criança e ao jovem um leque de possibilidades com relação ao esporte, para depois cada um poder optar pelo que mais interessa?

Gustavo: Sim, eu tive a sorte de ser exposto a vários esportes e, aos treze anos, eu pude optar pela natação. Percebi que era uma vocação, era diferente de outros esportes, eu me dedicava à natação com prazer, eu desenvolvia melhor e me empenhava mais.

Como eram os seus treinos na adolescência?

Gustavo: Eram treinos organizados. Não era treinamento mais sério. Não havia exageros. Eram três vezes por semana, uma hora por dia. Eu tirava férias de dois meses.

Eram somente aulas ou já havia alguns objetivos para competição?

Gustavo: Já, eu visava competições. Não eram simplesmente aulas de natação para aprender a nadar e fazer os estilos. Tinha o objetivo de competir, mas treinando três vezes por semana. Em um treinamento mesmo, que para mim só veio mais tarde, a gente se dedica de 25 a 30 horas por semana ao esporte. Mais ou menos, quase cinco horas por dia.


Muitas vezes os pais têm o receio de que o treinamento levado mais a sério para um esporte atrapalhe os estudos. O que você pensa sobre isso?

Gustavo: Vai depender muito da organização de cada criança, de cada adolescente e de cada família. Da mesma forma que algumas escolas tentam responsabilizar o esporte pelo mau desempenho nos estudos, às vezes o treinador de esporte também culpa a escola pelo mau desempenho da atividade esportiva: "Você está gastando muito tempo na escola, não tem tempo para treinar, então não é um bom atleta". Ou: "Você treina muito, não dá tempo para estudar, então você é um mau estudante". Dá para fazer os dois. Não é fácil, mas, por exemplo, aqui em São Paulo, se o treino é em um clube muito distante da escola, fica mais difícil. Perde-se muito tempo no deslocamento. Acaba ficando muito duro.

Você buscou a oportunidade de morar nos Estados Unidos como forma de ter estudo e esporte de maneira mais integrada?

Gustavo: Uma das razões porque eu saí do Brasil foi essa. Eu fui para lá aos 17 anos. Eu queria continuar treinando em alto nível e estudando em alto nível também.

Você se formou em Economia?

Gustavo: Economia, pela Universidade de Michigan. E lá, o esporte é totalmente integrado à universidade. É como você estudar na USP e morar no próprio campus onde você também treina. Há uma estrutura para os atletas na parte acadêmica. Nós, atletas, tínhamos tutores para nos dar apoio junto à universidade. Essa estrutura faz diferença.

E quanto aos exageros? Quando você acha que o esporte passa dos limites?

Gustavo: Dependendo da idade, o treino excessivo pode ser pesado. Mas isso é muito pessoal. Cada um precisa saber qual é o limite. A família, nessa hora, é muito importante. Afinal, são os pais que vão organizar a vida do filho. Outro problema que a família tem que ficar de olho, aqui no Brasil, é no uso de anabolizantes. Principalmente em academias. Infelizmente o dopping sempre está presente. Eu sei que é freqüente, mas as pessoas que utilizam esses recursos não se aproximam de mim. Sabem que a minha preocupação é manter ou melhorar o desempenho com uma atenção voltada, por exemplo, à alimentação adequada.

Como é a sua alimentação? Foi mudando com o passar do tempo?

Gustavo: Antes eu era mais regrado. Atualmente eu até procuro respeitar um pouco o que eu gosto, acabo comendo o que eu não comeria antes. Ao mesmo tempo, não abuso. Parece que, com o passar da idade, a gente se dá mais o direito de fazer o que gosta. Mas eu não vou ficar comendo doces todos os dias. Há alguns suplementos que eu tomo que são aminoácidos, creatina, albumina, e uma série de coisas que eu fui aprendendo com a experiência, que me dá mais segurança para melhorar o meu desempenho.

Falando em não comer doces todos os dias, como foi para você fazer uma propaganda de Danette, que é um alimento bastante calórico? Esse produto buscou, como apelo de marketing, associar e estimular o consumo dessa sobremesa ao seu sucesso no esporte. É um apelo forte para as crianças, não?

Gustavo: Isso nem passou pela minha cabeça. Aí eu também acho que é uma questão de os pais controlarem. Houve mesmo muita repercussão entre as crianças. Até os adultos vinham e cantavam a musiquinha. É lógico que comer um caminhão de Danette não é o ideal, mas era uma campanha para vender e vendeu bem. Eu, como pai, se meu filho quisesse encher a cara de doces, de refrigerantes, eu explicaria o que eu acho.

Hoje você está na faixa dos 30 anos. Como você vê as mudanças no decorrer da vida em relação ao esporte?

Gustavo: Eu já passei da idade que imaginava como limite para nadar. Mas é uma coisa que me dá muito prazer e eu ainda tenho objetivos. Quero ampliar o número de medalhas que eu tenho, que é um recorde de todos os esportes aqui no Brasil. Eu continuo competitivo dentro do esporte. Mas é claro que as limitações vão ocorrendo de acordo com a idade. Não as limitações físicas necessariamente, mas os interesses mudam. A família, por exemplo, hoje é bem diferente de quando eu tinha 23 anos e só fazia natação. Eu me preocupava só com a natação. É uma nova fase, estou mais voltado para outras coisas, outros projetos. Mas eu me sinto bem, hoje, porque eu consegui me manter na natação. São poucas as pessoas que podem viver desse esporte. Que podem ganhar e se sustentar.

A revista Filhos & Alunos recebeu várias sugestões para discutir o esporte na vida das crianças. Muitos pais gostariam de ver o filho competindo, mas questionam até que ponto devem estimular. Alguns expressam o medo de que, com a alta dedicação aos treinos, não viva a infância. O que você sugere aos pais que pretendem introduzir a criança em um esporte competitivo?

Gustavo: Eu acho que os pais têm que dosar o esporte na vida do filho, ver o que ele gosta de fazer... E têm que organizar. Os exageros levam ao estresse e à frustração. Eles têm que estabelecer um número máximo de horas de treinamento, têm que se preocupar com a formação e a qualidade de ensino. E também com a orientação no esporte. Quando você consegue uma boa orientação, o esporte é excelente porque a criança aprende a cuidar do corpo. Naturalmente, ela vai se afastar das drogas, do álcool, daquilo que faz mal para ela.


Gustavo Borges é quatro vezes medalhista olímpico
Entrevista concedida à revista Filhos & Alunos nº 4




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